quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Jornal Bom Dia de Bauru 10/10/2009

Despedidas
Luiz Viegas de Carvalho

O blog da Fundação José Saramago é o espaço onde o famoso escritor português, Prêmio Nobel de Literatura, costuma palpitar com muito prazer. Seu endereço é: http://caderno josesaramago.org/.
Alegando necessidade de dedicar-se integralmente a um novo livro que está a preparar, o autor, sob o título de "despedida", afirmou há dias que iria interromper por uns tempos suas postagens naquele veículo. Nesse ínterim, os usuários do site poderiam ler "Caim", romance pronto para ser lançado agora na primeira quinzena de outubro. O livro será sobre Deus. Saramago proclama-se ateu, mas aborda com frequência questões sobre coisas sagradas e religiosas. Já publicou até um evangelho segundo Jesus. Um brincalhão afirmou que o romance "Caim" talvez seja alguma denúncia de fratricídio cometido por Deus.
A despedida de Saramago traz, no final do texto, uma bela confissão, deixando o caminho aberto para uma volta eventual: " Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me."
Como não é difícil imaginar, este arrazoado pode parecer, e talvez o seja, mera propaganda do famoso romancista. Mas ele vai além. A vida trilha caminhos imprevisíveis. Não vale a pena ser radical. De fato, o famoso autor já voltou três vezes ao Caderno. Aquele gesto que poderia despertar um sentimento de desenlace virou um arremedo de voo. Saramago retornou para lembrar os apressados e possíveis desertores que o "homem põe, porém são as circunstâncias as que dispõem..."
Vale a pena finalizar a presente arenga com o motivo da volta tão agradável e oportuna. "...soou a hora de levantar outra vez a palavra para promover a reflexão livre e, que não se escandalizem os ouvidos castos, a justa dissidência... dissentir é um dos direitos que faltam à Declaração dos Direitos Humanos. O outro é o direito à heresia." Estaria Saramago preparando o espírito dos leitores para a peça sobre Caim?
Enfim, a despedida não se configurou como ausência, pois a palavra corajosa do escritor torna presente a sua luta incansável pela liberdade de expressão, tão ameaçada ultimamente.

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